23.2.15

Da crise

Por José Diogo Madeira, in iOnline


Se cada português emprestou 268 euros aos gregos, perdoo-lhes a minha parte. Só não perdoo os 498 euros que tive de desembolsar pelo BPN e mais as largas centenas que ficaram por conta da salvação do restante sistema financeiro nacional (e ainda vamos ver o que nos custará o BES). Relembremos a história: esta crise começou em 15 de Setembro de 2008, quando o Lehman Brothers abriu falência, consequência de empréstimos hipotecários de alto risco. Foi a maior falência de sempre nos Estados Unidos da América e iniciou o derrube dos gigantes bancários mundiais, como peças de dominó. Em Novembro de 2008, o governo português nacionalizou o BPN, enredado em crimes de fraude fiscal e branqueamento de capitais. Em Dezembro do mesmo ano, o mesmo governo ajudou o BPP com uma garantia de 450 milhões de euros, necessários à sobrevivência do banco (que acabou por não sobreviver, obrigando à execução da mesma garantia). Mais recentemente foi o colapso do BES e, pelo meio, injecções de capital no BCP, BPI e CGD. Nunca será possível apurar quanto dinheiro cada português doou ao sistema financeiro nacional. Mas será sempre, de forma directa e indirecta, muito mais que os 268 euros que porventura nos custaria agora um perdão da dívida grega. Dizem-nos também que os gregos são subsidiodependentes, que vivem num sistema corrupto, que inventam artifícios para se escusarem aos impostos. E aqueles que levaram os bancos portugueses à falência, não padeciam dos mesmos vícios, mas multiplicados à escala da sua soberba? Seriam eles todos de ascendência grega? A génese da crise financeira e económica dos últimos sete anos está no facto de a banca ter sido utilizada globalmente como um instrumento de enriquecimento rápido e/ou ilícito dos que se conseguiram sentar nas suas administrações. Serão julgados demasiado tarde, inocentados discretamente e reformados com o saque arrecadado. Enquanto isso, inventam-se argumentos para convencer a plebe de que a culpa é, afinal, de quem era roubado.