5.2.15

INE. Queda do desemprego sem reflexos na contenção da pobreza no país

Por Filipe Paiva Cardoso, in iOnline

Recuperação assente em sazonalidade e salários baixos leva a crescimento da taxa de pobreza apesar da recuperação do emprego

O Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgou ontem que Portugal fechou 2014 com uma taxa de desemprego média anual de 13,9%, valor que compara com os 16,2% de média registada em 2013. Apesar de comparar positivamente com os valores médios de 2013, a evolução mais recente deste indicador foi de deterioração: os últimos meses de 2014 foram marcados por uma subida do desemprego, com a taxa de 13,1% no terceiro trimestre de 2014 a saltar para 13,5% no último. Culpa da sazonalidade.

Entre Outubro e Dezembro do ano passado, as taxas de desemprego no Algarve, no Alentejo e na Madeira dispararam para valores acima do registado no trimestre anterior, de Julho a Setembro. Se nestes meses estas regiões conseguiram taxas de desemprego de 11,2% (Algarve), 12,6% (Alentejo) e 13% (Madeira), depois do Verão valores saltaram para 14,9%, 14,5% e 15,1%, respectivamente. Saltos de dois pontos percentuais no caso de Alentejo e Madeira e de 3,7 pontos da região algarvia. Variações regionais que alimentaram a subida de 0,4 pontos da taxa de desemprego global do 3.o para o 4.o trimestre de 2014.

Emprego e pobreza O desemprego de 16,2% registado em 2013 foi a média anual mais elevada de sempre em Portugal, e compara com os 15,7% de 2012 e os 12,7% de 2011, além dos 13,9% do ano passado. Mas a inversão de 2014 na tendência de crescimento da taxa anual de desemprego não está a ter reflexos no risco de pobreza da economia portuguesa.

São vários os factores que concorrem para esta falta de relação entre mais emprego e menos pobreza, como a queda das remunerações médias, o aumento do peso dos empregos sazonais, em part-time ou do subemprego no total do emprego existente, o custo de vida e também o crescente número de trabalhadores que ganham o salário mínimo legal.

Segundo dados avançados pelo INE em Janeiro - com dados provisórios sobre 2014 -, a taxa de risco de pobreza após transferências sociais saltou de 18% para 19,5% de 2011 para o ano passado, com a privação material grave a afligir hoje 10,6% da população contra 8,3% em 2011. Já a população em risco de pobreza ou exclusão saltou de 24,4% para 27,5% de 2011 para 2014. Neste mesmo período, a taxa de desemprego trimestral avançou até valores próximos dos 18% no início de 2013, entrando em queda ao longo desse ano e mantendo-se em valores entre os 13% e os 14% trimestrais durante 2014. Os dados do INE sobre o risco de pobreza mostram também que 9,9% dos empregados em 2011 estavam em risco, contra os 10,7% de 2013.

A economia parece não estar assim a criar emprego com remunerações suficientes para evitar o aumento da pobreza no país. Veja-se a este respeito que em Abril de 2011 eram 10,9% dos trabalhadores a receber 485 euros brutos mensais, percentagem que até Abril de 2014, últimos disponíveis, subiu para 12,9% - a receber os mesmos 485 euros. Além disso, e ainda segundo dados do Boletim Estatístico do Emprego, no mesmo período a remuneração base média mensal passou de 963 euros para 949 euros - menos 1,5% -, tendo o ganho médio mensal evoluído de 1134 euros para 1121 euros - menos 1,2%. Estas desvalorizações ocorreram em pleno ciclo de aumento do custo de vida, seja por mais impostos seja por maiores preços dos transportes ou da energia. Também a precariedade deve ser apontada: o subemprego e o emprego a tempo parcial é hoje responsável por 18,5% do total de empregos quando em 2011 era de 17,8% do total.