12.5.15

Abandono escolar no superior é de quase 40% entre os alunos que entraram com 10 valores

Clara Viana, in Público on-line

Responsável da Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência fala de "efeito mortal".

Quase 40% dos alunos que entram no ensino superior universitário com média de 10 valores abandonam os estudos passado um ano. Uma percentagem que desce para 6% entre os que que têm 15 valores como nota de ingresso.

São dados divulgados nesta quinta-feira de manhã por um dos responsáveis da Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC), João Baptista, num seminário sobre sucesso académico que decorrerá durante todo o dia.

Dez é a média mínima de ingresso no superior. “Não estava à espera desta dimensão”, admitiu João Baptista, que não hesita em descrever o impacto das notas de ingresso na probabilidade de abandono do ensino superior como um “efeito mortal”. Esta informação diz respeito aos alunos que entraram no ensino superior universitário pelo concurso nacional de acesso no ano lectivo de 2011/2012, o primeiro em que passou a existir informação sobre o percurso individual de cada estudante.

A variação faz-se logo sentir quando a média de ingresso passa de 10 para 11 valores, com uma redução da taxa de abandono passado um ano de 39% para 23,6%. “Se os números por vezes falam, estes aqui gritam”, comentou João Baptista, que desafiou as instituições do ensino superior a elaborar novas estratégias de acolhimento dos novos alunos com base no que os novos dados sobre abandono revelam.

No ensino superior politécnico, o “fenómeno é semelhante, embora com uma dimensão menor”, frisou o subdirector-geral da DGEEC, referindo que 18% dos que entraram com média de 10 valores neste subsistema de ensino já não estavam a estudar um ano depois de terem ingressado, descendo esta percentagem para 14% quando a média de entrada é de 11 valores.

Com base na informação sobre o percurso individual dos estudantes, a DGECC conseguiu calcular a taxa de abandono do ensino superior de uma forma “mais exacta” do que aquela utilizada até então e que resultava da proporção entre os que saíam do sistema de ensino e os que tinham entrado três anos antes. Para o fazer, foi tentar saber qual a situação em 2012/2013 dos alunos que se tinham inscrito no 1.º ano do superior, pela primeira vez, em 2011/2012. Resultado: 12% tinham abandonado os estudos, uma taxa que é três vezes inferior à registada quando o universo se restringe aos que entraram com uma média de 10.

A taxa geral de abandono passado um ano é idêntica no superior universitário e no politécnico públicos, mas sobe para 17% no privado.

Os números gerais relativos ao abandono foram utilizados no portal Infoescolas, lançado no ano passado pelo Ministério da Educação e Ciência, onde é possível saber quais as estatística nacionais e o que acontece curso a curso tanto no que respeita ao abandono como à empregabilidade.

Agora a DGEEC foi apurar também quais são os impactos das dificuldades económicas sentidas pelos estudantes na taxa de abandono e concluiu que é muito menor do que o revelado pelas dificuldades escolares, traduzidas nas médias de ingresso.

A taxa de abandono um ano depois do ingresso é menor (4%) no grupo de alunos que se candidataram a bolsas de estudo devido a carências do seu agregado familiar e que viram as suas candidaturas aprovadas. Esta percentagem passa para 9% entre os alunos que não se candidataram a bolsas, um resultado que se mantém quase inalterável quando os alvos de análise são os estudantes que viram recusada a bolsa e os que primeiro tiveram uma recusa, mas cuja situação foi depois reavaliada, levando à concessão deste apoio.

“Há muito poucos alunos nesta última situação, mas este é um indicador de que os alunos decidem abandonar logo no primeiro semestre”, frisou João Baptista. Em 2013/2014 foram apresentados 85.546 pedidos de bolsa de estudo. Destes, 62.125 foram aprovados.

O seminário sobre sucesso académico, que está a decorrer nesta quinta-feira, resulta de uma iniciativa conjunta do secretário de Estado do Ensino Superior e de várias instituições universitárias e politécnicas.