3.9.15

Desenhar o "naufrágio da humanidade" para nunca o esquecer

in Público on-line (P3)

Ninguém quer ver a imagem do menino sírio de três anos, rosto na areia e vida terminada. Mas a fotografia corre mundo e o mundo não lhe fica indiferente. Não ver a imagem do menino sírio não é uma opção — e não ficar com ela gravada também não. Foi por isso que o PÚBLICO, como dezenas de jornais nacionais e internacionais, a estampou na primeira página. Aylan Kurdi morreu. O irmão Galip, de cinco anos, morreu. A mãe Rehan também. Da família curda que vivia em Kobane e tentava chegar à ilha grega de Kos, só o pai, Abdullah, sobreviveu. Nos últimos meses, foram milhares os que tiveram o mesmo destino. A fuga não é uma opção ou um pedido misericordioso à Europa, é a única saída, como tão bem explicou um menino sírio de treze anos: “Parem simplesmente com a guerra, nós não queremos ir para a Europa. Parem a guerra na Síria, apenas isso.” Desta fotografia que não se esquece — "naufrágio da humanidade" — nascem agora desenhos, homenagens que são um grito de quem não quer que se esqueça. Na "hashtag" turca #KiyiyaVuranInsanlik, em #HumanityWashedAshore ou em #DrownedSyrianBoy multiplicam-se as manifestações de pesar e revolta. Mas também de vontade de mudar: hoje, mais do que ontem, há quem queira dar a volta à história — se esta fotografia e estes desenhos servirem para isso, talvez as lágrimas não sejam em vão.