11.9.15

«Estamos preparados para acolher mais de 1500 refugiados»

In O Almonda

O Almonda” aproveitou a sua passagem por Torres Novas para saber se Teresa Tito de Morais entende que o número avançado pelo Governo, à data de 1500, seria um número que o país está preparado para acolher ou se, como indicou recentemente a igreja portuguesa, poderíamos acolher 10 vezes mais. A Presidente da CPR declarou que 1500 «é um número muito reduzido», até pelas «provas de solidariedade que temos testemunhado nos últimos dias a nível nacional». Indicou a responsável que tem havido mostras de disponibilidade de acolhimento de vários municípios do país, entre os quais o de Torres Novas, testemunhando assim «uma grande onda de solidariedade», que realça e que nos deve «orgulhar como portugueses».

Teresa Tito de Morais trabalha na área dos refugiados há mais de 20 anos, e, explicou, o acolhimento de refugiados em Portugal «não é uma situação nova», existindo «uma tradição». Defende uma rápiTeresa Tito de Morais, Presidente do Conselho Português para os Refugiados «Estamos preparados para acolher mais de 1500 refugiados» da atuação, com celeridade nos mecanismos, pois há que responder a uma situação humanitária urgente.

Recusou no entanto a avançar com um número concreto da disponibilidade portuguesa mas, garantiu, pela experiência na área considera que o país pode com toda a certeza «acolher mais de 1500 refugiados». Recordou que já enfrentámos situações bem piores e que, quando se deu a descolonização, o país acolheu mais de 300 mil pessoas em dificuldades, vindas das ex-colónias. Quando se deu a guerra dos Balcãs acolhemos mais de 1400, quando foi a crise na Guiné Bissau, Portugal acolheu mais de 4000 e na crise de Timor Leste o país recebeu mais de 10 mil timorenses.

Durante a sua intervenção no âmbito do programa da “Escola Glocal”, Teresa Tito de Morais avançou com alguns dados estatísticos, dizendo que atualmente o país recebe pedidos de acolhimento espontâneos na ordem dos 600 por ano, sendo maioritariamente da Ucrânia, sendo logo seguidos pela China. No último caso são de mulheres, que sofrem perseguição religiosa.

No Centro de Acolhimento da CPR há 44 nacionalidades diferentes e pretende-se fazer do local um centro de transição, não um centro de acolhimento de longa duração. Ali procura-se responder às necessidades básicas, começando por oferecer segurança, o que é «muito importante». Depois ensina-se português, dando-lhes ferramentas para que possam comunicar, ao mesmo tempo que se presta cuidados de saúde, até porque, muitos refugiados vêm de países onde têm acontecido surtos e epidemias de várias doenças perigosas.

O trabalho que a CPR desenvolve com as escolas é também importante, pois muitas vezes são famílias inteiras que fogem, com filhos pequenos, que é preciso integrar nas escolas.

O momento atual Já em fevereiro, com o aumento de afluxo de migrantes para a Europa, com vários casos de crises humanitária a emergir nas notícias, a CPR começou a sensibilizar as autarquias portuguesas para a eventualidade de Portugal acolher refugiados. Estas pessoas, lembrou, fogem da morte, da guerra, jogam tudo na travessia do Mar Mediterrânico, arriscando a sua vida e das suas famílias, pois sabem que se ficam morrem. Há também entre as famílias muitos jovens que se aventuram sozinhos, esperando depois mais tarde poder trazer a família. Teresa Tito de Morais elogiou o aumento do dispositivo europeu, desde julho passado, que procurou em primeiro lugar evitar que mais vidas se percam na travessia.

Se bem que haja quem julgue que todos os que fogem da guerra, principalmente da Síria, esteja a tentar chegar à Europa na verdade não será bem assim. A grande maioria que foge da guerra ficou em países vizinhos do conflito, 87% estará nos países vizinhos. E essa informação «tem de passar», desmistificando alguns comportamentos xenófobos. Elogiou Ângela Merkel, a líder alemã, por ter uma nova perspetiva sob os migrantes, desenvolvendo políticas de acolhimento e acreditando que serão uma força de trabalho que irá impulsionar a economia alemã. É uma visão positiva que há que realçar. Por fim defendeu que os refugiados sejam distribuídos pelos diferentes países europeus, mas em número superior ao que tem sido anunciado. Espera que em breve, no final de setembro, possam existir mais novidades.