29.10.15

Quando os europeus eram os refugiados

in Económico

Os países europeus exportaram milhões de refugiados durante o século XX.

A memória é curta, diz a sabedoria popular. Mas não é preciso recuar muito anos, nem recorrer a manuais de história para que surjam episódios de milhares de europeus em fuga. Basta recuar ao século XX, o século de duas guerras no continente que criaram exércitos de migrantes/refugiados.

1. Áustria
O colapso do Império Austro-Húngaro em 1918 levou a que cerca de 20 mil austríacos procurassem uma vida melhor nos EUA, tendo o governo de Viena acabado por criar quotas para limitar a imigração para o outro lado do Atlântico. Após a anexação do país pela Alemanha nazi em 1938, cerca de 165.000 judeus austríacos fugiram para os EUA, Canadá, Argentina e Palestina, território que estava então sob domínio britânico.

2. Alemanha
A subida ao poder de Hitler em 1933 levou ao início da saída da população judaica do país. Esta fuga atingiu proporções massivas a partir de 1938, tendo acabado por emigrar um total de 282.000 pessoas, das quais 95 mil seguiram para os EUA, 60 mil para a Palestina, 40 mil para o Reino Unido. Os outros procuraram abrigo na América Latina e mesmo na China. Nos dias finais da segunda guerra mundial, a Alemanha foi palco do maior drama de refugiados da História, com cerca de 9,5 milhões de germânicos a serem expulsos ou forçados a fugir das suas casas no Leste do país (posteriormente anexadas pela Polónia e União Soviética), e também das suas residências na Jugoslávia, Hungria, Checoslováquia e Roménia, acabando por se estabelecer no resto do território alemão. Cerca de dois milhões de pessoas morreram durante estas expulsões. Após a guerra, várias centenas de milhares acabaram por emigrar para os EUA e a América Latina.

3. Grécia
Após a Primeira Guerra Mundial, a Grécia recebeu os territórios turcos da Ásia Menor que tinham populações helénicas. Mas a Turquia acabou por recusar os termos do tratado de paz, o que causou uma guerra com a Grécia entre 1919 e 1922. Derrotados, mais de 1,25 milhões de gregos fugiram das zonas que regressaram ao domínio turco, dos quais 17.000 ficaram aos cuidados da Cruz Vermelha na Síria, que na altura estava sob o domínio da França. Após a invasão Nazi de 1941, outros 30.000 refugiados gregos, incluindo um número significativo de judeus, seguiram para a Síria francesa, bem como para a Palestina e o Egipto, que na época eram controladas pelo Reino Unido.

4. Hungria
A revolta popular de 1956 contra a URSS, brutalmente esmagada pelos tanques russos, acabou por levar 200 mil húngaros a procurar abrigo no Ocidente, nomeadamente na Áustria.

5. Sérvia e croácia
A guerra dos Balcãs de 1991 a 1995 levou 200 mil sérvios residentes em todo o território jugoslavo a serem refugiados na própria Sérvia, enquanto 550 mil croatas saíram da zona de guerra para áreas mais seguras do país. Uma pequena parte deste número emigrou para se juntar à comunidade croata residente no Chile.