22.1.16

Portugal e o mundo: nem tudo é o que parece

FUNDAÇÃO FRANCISCO MANUEL DOS SANTOS, in "Visão"

Seis factos, recolhidos pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, que desmentem pela estatística algumas ideias feitas

Quando tendências globais são transformadas em centenas de milhares de dados estatísticos, oriundos de 80 fontes informativas internacionais, distribuídos por 500 indicadores diferentes e enquadrados numa plataforma online gratuita, fiável e em constante crescimento e actualização, está criada a ferramenta de serviço público que permite olhar o mundo e cada sociedade de forma panorâmica. Contribuindo para esclarecer as consequências da globalização, as assimetrias daí geradas e os eventuais pontos de contacto entre os 193 países das Nações Unidas, desde 1960 aos dias de hoje, a GlobalStat, projecto do Instituto Universitário Europeu (IUE) e da Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) não se cinge ao PIB e articula a dimensão económica com outros índices relevantes para criar sinergias de explicação e previsão da dinâmica internacional.

Todos conseguimos, de forma mais ou menos rigorosa, medir o pulso ao país onde vivemos, ter uma noção do seu peso económico e estratégico no contexto internacional, construir uma opinião sobre o rumo da nação e ter uma ideia das competências e características que a distinguem das demais. Mas será que os números confirmam a nossa percepção? Espreite os dados e surpreenda-se:

1 - PORTUGAL, UM PAÍS PEQUENO?
Portugal representa 0,15% da população mundial. A população da China, o país mais populoso do mundo, equivale a mais de 130 vezes a população de Portugal; por outro lado, a população de Portugal equivale a mais de 1060 vezes a população das ilhas de Tuvalu e Nauru, na Oceânia, que constituem os países com a menor população do mundo.


2 - PORTUGAL, UM PAÍS ENVELHECIDO?
Tal como descrito aqui, o número de idosos (65+) a residir em território nacional em 2001 ultrapassava a população infanto-juvenil até aos 15 anos. Em termos de posição mundial, o envelhecimento de Portugal confere-lhe o 8º lugar do ranking dos países com maior número de idosos por 100 indivíduos em idade activa (15 a 64 anos).


3 - O MUNDO, UMA TERRA DE IDOSOS?
Dados de 2013 indicam que a esperança média de vida à nascença da população mundial ronda os 71 anos, quase mais 19 anos do que a registada em 1960. Em Portugal o valor é superior a 80 anos (fruto da redução significativa do número de nascimentos nos últimos anos e do aumento da longevidade nos países industrializados), situando-se apenas 3 anos abaixo do Japão, país que lidera a tabela deste indicador. Por oposição, em alguns países africanos como a República Democrática do Congo, o Lesoto, Suazilândia ou Serra Leoa, a esperança média de vida ainda não atingiu os 50 anos.

4 - A REDE, ESTAMOS TODOS LIGADOS?
O acesso às tecnologias de informação é, no mundo contemporâneo, um sinal importante e revelador do grau de desenvolvimento de um país. Em Portugal, cerca de 6 em cada 10 pessoas utilizam a Internet (62,1%), sendo que entre 2002 e 2014 a utilização genérica cresceu de 43% para 98% entre os jovens dos 16 aos 24 anos. É na Islândia e Noruega que se concentra a maior percentagem de população ligada à rede, com valores superiores a 95%. O contraponto encontra-se em países como a Guiné ou Timor-Leste onde a percentagem de utilizadores ainda não chega a 2%.


5 - MAIS POPULAÇÃO, MAIS POLUIÇÃO?
Em 50 anos, entre 1960 e 2010, a população mundial duplicou, aumentando também para o dobro as emissões de carbono (C02) por habitante. O Acordo de Paris, aprovado em 2015, é exemplo da preocupação internacional em delinear um esforço colectivo para um problema que visa todas as nações: a necessidade imperativa de reduzir ou eliminar os gases provenientes do uso de combustíveis fósseis (carvão, petróleo, gás natural), dióxido de carbono e metano (CH4), gases de efeito estufa responsáveis pelo fenómeno de aquecimento global. No entanto, na Ásia, o continente mais populoso e com maior volume total de emissões de gases poluentes, as de C02 por habitante são menos de metade das registadas no continente Americano ou Europeu, o que se justifica pela assimetria no acesso aos recursos, por um lado, e pela acelerada industrialização das economias emergentes, sem a devida e necessária implementação de normas de responsabilidade ambiental. Em Portugal as emissões de C02 por habitante estão abaixo da média europeia, mas são hoje cerca de 5 vezes superiores às assinaladas em 1960.


6 - DESASTRES NATURAIS, UMA REALIDADE DISTANTE?
Em 2013 mais de 96 milhões de pessoas foram afectadas por desastres naturais, um valor correspondente a nove vezes a população de Portugal. A maioria dos afectados encontrava-se na Ásia (90%), tendência que se manteve em 2014, calculando-se que mais de metade dos 226 desastres naturais registados no mundo tenham ocorrido na zona da Ásia Pacífico, segundo dados da Comissão Económica e Social das Nações Unidas para esta região. Dos cerca de 1,7 milhões de europeus afectados por acontecimentos similares, em 2013, cerca de 4 mil pessoas eram residentes em Portugal.