17.2.16

"Esta mãe precisaria de ajuda terapêutica"

in Diário de Notícias

Polícias, bombeiros e o INEM, junto ao corpo de uma das crianças que caíram ao rio Tejo junto a Caxias

Entrevista a Rui Abrunhosa Gonçalves, psicólogo especializado em psicologia da justiça

O que pode levar uma mãe a tentar matar os filhos e a suicidar-se?

Não se sabe ainda tudo sobre este caso, mas o que pode dizer-se em abstrato sobre este tipo de situações, em que uma mãe ou um pai tentam matar-se a si próprios e aos filhos, é que elas se integram num quadro chamado homicídio por compaixão. Essas pessoas estão de tal forma perturbadas que pensam que só dessa forma podem poupar os filhos a uma situação de abandono ou de violência, por exemplo. Essa é a sua interpretação da realidade, as pessoas não têm capacidade para vislumbrar uma saída que não seja a pior de todas. Isso mostra que estão num estado de grande perturbação psicológica.

De que tipo de perturbação estamos a falar?

Estamos a falar de um estado emocional perturbado, mas também pode haver uma patologia instalada, como uma depressão, ou outro tipo de patologia psiquiátrica.

Não havendo patologia, que tipo de perturbação emocional pode conduzir a uma situação destas?

Pode haver uma depressão reativa temporária, em relação a uma situação de divórcio, por exemplo. Nessas situações pode haver comportamentos muito desajustados. No caso dessa senhora estamos a falar de alguém que precisaria de uma ajuda terapêutica. Quando estas pessoas não são ajudadas em tempo útil o desfecho pode ser este.

Como se previnem estas situações?

Na minha opinião, sempre que há uma situação de divórcio e menores envolvidos, e independentemente de o processo ser amigável, as famílias devem ser sempre encaminhadas para acompanhamento terapêutico. Neste caso ainda era mais problemático, porque havia queixas de violência, que podem até não ser verdadeiras. Importa agora saber o que estava a ser feito no acompanhamento desta família, sobretudo estando envolvidas crianças tão pequenas.