30.3.16

Por dia, 14 mulheres são vítimas de crime

In "Renascença"

Aumentam denúncias à APAV após silêncio do pico da crise. Predominam os crimes de maus-tratos psíquicos e físicos.

A Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) registou um aumento de casos em 2015, denunciados cada vez mais por contacto telefónico. Foram feitos mais de 34 mil atendimentos a vítimas, segundo o relatório anual. A maioria das vítimas são mulheres. Em média, por dia, 14 mulheres são vítimas de crime.

O presidente da APAV, João Lázaro, aponta um aumento de 8% nos processos nos últimos dois anos, porque a crise impediu muitas pessoas de pedirem ajuda. “O empobrecimento da sociedade portuguesa no pico da crise – e ainda muitos efeitos se sentem dessa crise – um calar, um não denunciar, um não pedir apoio, muitas vezes por falta de alternativas de construção de um projecto de vida sem violência, como por exemplo no caso da violência intrafamiliar”, descreve.

O relatório diz que são muitos mais os crimes contra pessoas, mais de 95% e sobretudo maus-tratos psíquicos e físicos. As vítimas continuam a ser, sobretudo, do sexo feminino. Em 2015, por semana, em média, 101 mulheres foram vítimas de crime, 14 homens, 18 pessoas idosas, 20 crianças e jovens.

O relatório apresenta ainda o perfil geral da vítima: É uma mulher, com cerca de 40 anos, casada, com filhos, frequentou o ensino superior, está empregada e o agressor é sobretudo o cônjuge.

A violência doméstica registou 18. 679 casos nos processos da APAV, que alerta que nem sempre é possível fazer a denúncia, “pela impossibilidade muitas vezes de poder pagar uma chamada telefónica, daí a importância de um número gratuito, como o 116 006, ou então, para casos mais complicados, deslocarem-se aos gabinetes de apoio à vítima”, aponta João Lázaro.

A vitimização mais registada pela APAV foi de "tipo continuado", assinalada em 74,7% dos casos. Em 16,3% das situações duravam, em média, entre os dois e os seis anos.

Vítimas queixam-se de vários crimes

O presidente da APAV explica os 34 mil atendimentos, correspondentes a mais de 9.600 pessoas. “Regra geral, as pessoas vêm com um ou mais crimes de que são vítimas, daí a questão de haver um número tão elevado de crimes e actos de violência”.

Os locais do crime mais referenciados foram a residência comum (5.976), a residência da vítima (1.590) e a via pública (1.105). Fora do âmbito dos crimes contra as pessoas, o relatório realça os crimes patrimoniais, nomeadamente o crime de dano, com 229 registos (15%).

Destaca também as "outras formas de violência", que incluem o 'bullying' e o 'stalking' (assédio persistente) e representaram mais de 500 queixas (2,5% do total das denúncias).

APAV apoiou três crianças e jovens por dia em 2015

A APAV apoiou em 2015 uma média de três crianças e jovens por dia vítimas de crime, num total de 1.084, mais 92 face a 2014. O relatório anual refere que 54,6% são meninas, com uma média de idade de 9,9 anos, sendo que 23,8% frequenta o pré-escolar e 23,6%, o primeiro ciclo.

Os dados apontam 102 casos de crianças menores de 14 anos que foram abusadas sexualmente e um caso de pornografia de menores. A maioria das vítimas vivia em famílias nucleares com filhos (49,6%).

Em 2015, a APAV apoiou 255 vítimas de crime sexual, a grande maioria (82,1%) mulheres, com uma média de idade a rondar os 25 anos. Metade das vítimas era estudante, sendo que 20,1% frequentavam o ensino secundário, 18,2%, o terceiro ciclo e 15,9%, o primeiro ciclo.

Relativamente aos idosos, as estatísticas da associação referem que foram apoiadas 977 vítimas em 2015, mais 125 do que no ano anterior. 80,5% destas vítimas são mulheres, com uma média de idade de 75 anos.

Cerca de 60% dos atendimentos em 2015 foram feitos por contacto telefónico, 30% foram presenciais, 10% por email e ainda poucos pelas redes sociais. Ao todo representam quase 10 mil vítimas.