27.6.16

Em defesa dos nossos idosos

António Ponces de Carvalho, in Público on-line

O trabalho com pessoas idosas poderá contribuir muito para o progresso de Portugal.

Portugal deve congratular-se: a Assembleia da República aprovou uma recomendação ao Governo para que, no prazo de 120 dias, regulamente o exercício da profissão de Gerontólogo.

Desde 27 de junho de 2006, ano em que a Escola Superior de Educação João de Deus propôs à Direção-Geral do Ensino Superior a criação, no País, da primeira licenciatura em Gerontologia, que tentamos mobilizar e incentivar o poder político para o reconhecimento desta tão importante profissão, essencial à defesa dos nossos idosos.

Fomos pioneiros quando, em 1920, instituímos o primeiro curso de Educadores de Infância, enquanto o Estado demorou 53 anos até criar curso análogo. Agora, felizmente, não será necessário tanto tempo para reconhecer o valor desta profissão.

Na Europa e em Portugal, existem mais pessoas idosas do que jovens, pelo que vai ser com certeza uma profissão de sucesso. O Gerontólogo estimula e organiza atividades, que ajudam os idosos a manterem as suas capacidades, destrezas e habilidades, o que é crítico para a qualidade de vida. O estímulo e o incentivo para manterem o cérebro ativo e treinado são fundamentais. As neurociências têm demonstrado que uma adequada estimulação retarda o aparecimento de um vasto conjunto de doenças e incapacidades, e prolonga a vida.

As pessoas idosas, com o apoio de um Gerontólogo, podem também desenvolver novas capacidades, destrezas e habilidades, descobrindo vocações que estavam apenas latentes. O Gerontólogo pode ajudar a melhorar a perspetiva que cada um tem sobre o seu envelhecimento e sobre as alterações que vão surgindo, assim contribuindo para uma vida mais autónoma, mais longa e feliz.

O trabalho com pessoas idosas é uma área de atividade que muito poderá contribuir para o progresso do nosso querido País. Por um lado, em resultado da satisfação proporcionada aos membros ativos da comunidade, por verem os seus entes queridos bem tratados, felizes e com vida própria. Por outro, por criarem novas empresas, por ajudarem a adequar os serviços e produtos para esta faixa etária. A título de exemplo, isso verifica-se nas indústrias de vestuário, calçado, mobiliário e turismo, e nos parques e residências, tendo em consideração as suas necessidades específicas.

Poder oferecer residências aos reformados de outras nações, com serviços especializados para as suas necessidades, constituirá um aliciante suplementar para que optem por vir habitar em Portugal, contribuindo financeiramente para o nosso desenvolvimento.

Portugal tem um património muito rico em termas; estas são, porém, ainda pouco exploradas no sentido de aparecerem programas aliciantes e próprios para as pessoas idosas e respetivas famílias, de modo a potenciar momentos ricos em vivências inter-geracionais. Também aqui o Gerontólogo poderá ajudar com atividades complementares aos tratamentos médicos.

Seria muito importante para a defesa da qualidade de vida dos nossos idosos que o conselho de administração da A3ES - Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior, alterasse a sua ideia de não aprovar licenciaturas em Gerontologia, agora que se prepara a regulamentação desta profissão.

O envelhecimento ativo é fundamental, mas não se consegue sem o apoio de toda a comunidade, verdadeiramente envolvida e solidária em promover a ideia de “dar mais anos à vida e dar mais vida aos anos”.

Director da Escola Superior de Educação João de Deus