20.9.16

A Sul, uma história comum de desequilíbrios económicos e sociais

Pedro Crisóstomo, in Público on-line

Crescimentos mais baixos do que a Norte, dívidas maiores, desemprego elevado são problemas comuns a alguns dos países presentes na cimeira de Atenas.

Os países do Sul da zona euro representados na minicimeira que hoje se realiza em Atenas têm entre si uma história comum de desequilíbrios económicos e sociais que a crise veio prolongar, com o país anfitrião do encontro, a Grécia, a continuar com uma economia em contracção e o desemprego num nível historicamente elevado.

O encontro junta à mesma mesa os líderes políticos de sete países com realidades e dimensões económicas distintas, mas que se debatem com problemas idênticos, seja pelas dificuldades de crescimento – onde apenas Espanha e Malta são uma excepção –, seja pelos elevados níveis de dívida pública, desemprego e pobreza.

Em Atenas estarão representadas três das quatro maiores economias da zona euro e algumas das mais fustigadas durante a crise.

Quatro foram alvo de resgastes financeiros: a própria Grécia, ainda com um programa em curso, Portugal, Chipre e Espanha. Neste último caso, a ajuda europeia foi à banca, e, neste momento, é a Itália quem procura resolver problemas no sector financeiro, para os quais precisa do aval de Bruxelas. E se França conseguiu um novo calendário para ajustar o défice, Espanha e Portugal escaparam às sanções mas têm ainda a sombra do eventual congelamento de fundos comunitários.

Os países do Mediterrâneo presentes na cimeira tiveram em 2015 um ritmo de crescimento do PIB de 2,1%, mais lento do que a média dos restantes países da União Europeia (uma variação de 3,6%). A economia grega voltou a encolher no ano passado 0,2% e nos primeiros seis meses deste ano o PIB voltou a encolher face a 2015. Já França e Itália tiveram um crescimento zero (em cadeia) no segundo trimestre deste ano.

Nos indicadores de desemprego, Grécia e Espanha surgem à cabeça como os dois países da UE com as maiores taxas, sobretudo entre os jovens. Na Grécia, 23,5% da população activa estava fora do mercado de trabalho em Maio; em Espanha, apesar do crescimento económico se manter, os números do desemprego em Julho ainda apontam para uma taxa historicamente alta, de 19,6%.

E mesmo em economias maiores, a crise no mercado laboral revela-se nos 10,3% de desemprego em França e nos 11,4% em Itália. São valores próximos da taxa registada em Portugal, onde o desemprego escalou para níveis recordes no pico da crise, estando agora nos 11,1%. Em termos médios, o desemprego está nos 13% nos países do Sul, sendo quase o dobro do valor observado nos restantes 21 países da UE.

É também no Mediterrâneo que se encontram algumas das taxas de risco de pobreza mais elevadas da União Europeia. As de Espanha e Grécia (22% da população) apenas são superadas pela realidade romena. E Portugal e Itália, com níveis de pobreza que abrangem mais de 19% da população, não estão distantes dos valores da Bulgária, Estónia, Lituânia, que aparecem logo a seguir a Espanha e Grécia.

Outro problema comum é o da dívida pública. Os sete países da cimeira têm um nível de dívida de 115% do PIB que contrasta com a média dos outros países, inferior a 60% do PIB. Só Malta se aproxima do objectivo do Pacto de Estabilidade e Crescimento. Em 2015, Espanha tinha uma dívida de 99% do PIB, França de 96%, Chipre de 109%, Portugal de 129%, Itália de 132% e Grécia de 177%.

Diferentes são as posições atribuídas pelo Fórum Económico Mundial para medir a competitividade das economias – França surge em 22.º lugar entre 140 países do mundo, Espanha em 33.º, Portugal em 38.º, Malta em 48.º mas a Grécia em 81.º e Chipre em 65.º.

A proximidade na dimensão das economias não quer dizer realidades semelhantes nos indicadores macroeconómicos, frisa ao PÚBLICO Grégory Claeys, investigador do think tank Bruegel, dando como exemplo o facto de as três maiores economias, a Alemanha, a França e a Itália, terem entre si “trajectórias muito diferentes em dois importantes indicadores, a produtividade e os salários”.

Considerando que a crise económica e os elevados níveis da dívida pública agravaram os desequilíbrios entre as dimensões económica e social do projecto europeu, muitos investigadores e cientistas políticos têm reclamado a necessidade de encontrar uma estratégia de reforço da “Europa Social” e da convergência económica e social entre os países. “É muito difícil ajustar e fazer desaparecer os desequilíbrios macroeconómicos” de um dia para o outro, admite Claeys, considerando que a resposta tem de partir de uma “coordenação a nível europeu como um todo”.