27.10.16

Como é que as marcas não sabem dos sírios a trabalhar ilegalmente?

Maria João Guimarães, in Público

Como é que as marcas não sabem dos sírios a trabalhar ilegalmente? As roupas estão penduradas, imaculadas, numa loja da Marks & Spencer em Londres. Quem as passou a ferro? Terá sido uma criança síria, que está 12 horas por dia a lidar com ferros e vapores, ganhando pouco mais de um euro por hora? E quem deu o ar usado àquelas calças de ganga na montra da Mango ou da Zara? Terá sido um refugiado sírio a trabalhar, ilegalmente, as mesmas 12 horas, numa fábrica num beco em Istambul? Os casos são alguns dos apresentados pelo programa Panorama, da BBC, que denuncia o trabalho ilegal de refugiados sírios, muitos deles menores, em fábricas na Turquia que fazem roupa para marcas como as britânicas Marks & Spencer e Asos, ou as espanholas Mango e Zara.

Todas estas marcas, sublinha a BBC, dizem que supervisionam as suas cadeias de fornecimento e não aceitam trabalho infantil ou de refugiados a trabalhar sem papéis.

O problema, diz a organização Business & Human Rights Resource Center, que em Janeiro divulgou um relatório sobre o trabalho de refugiados nas fábricas de têxteis da Turquia, é que os mecanismos de supervisão das marcas, apesar de incluírem inspecções, não são sufi cientes.
Uma das razões é que as roupas não vêm todas das fábricas que a marca conhece e visita, havendo um sistema de subcontratação que passa sob o radar das inspecções, disse ao PÚBLICO, por telefone, Danielle McMullan, do Business & Human Rights Resource Center.

A Turquia, que é já o sexto fabricante de têxteis do mundo, recebeu um grande número de refugiados da Síria: cerca de três milhões, dos quais metade, segundo a UNICEF, são menores. Um estudo da Universidade de Hacettepe, em Ancara, citado pela emissora árabe Al-Jazira, dizia que um refugiado a trabalhar na Turquia será mais provavelmente um menor do que um adulto, até porque aprendem a língua mais depressa. A Turquia tem dado autorizações de trabalho a refugiados, mas aos mais qualifi Investigação da BBC encontra trabalho ilegal de refugiados sírios, alguns deles crianças, em fábricas de roupa na Turquia. Marks & Spencer, Asos, Mango e Zara defendem as suas inspecções. O
Para Danielle McMullan, as auditorias não são a melhor solução por causa da subcontratação, em que a própria marca nem sempre sabe quais as fábricas a trabalhar para si.

É essencial, diz a responsável, que as marcas colaborem com sindicatos e organizações locais, que têm melhor informação.
E deixa um outro alerta: “A chegada de um enorme número de refugiados à Turquia faz com que haja um conjunto de circunstâncias único.
Mas os problemas de trabalho infantil e ilegal na indústria têxtil acontecem noutros países: são problemas globais da indústria.” mguimaraes@publico.pt cados. Segundo o Alto-Comissariado da ONU para os refugiados, mais de dois milhões de sírios não têm autorização para trabalhar na Turquia.

A investigação do Panorama diz que apesar de a Marks & Spencer não ter encontrado um único refugiado sírio a trabalhar nas instalações dos seus fabricantes na Turquia, o jornalista do Panorama, Darragh MacIntyre, viu sete sírios num dos locais, a ganhar pouco mais de uma libra (1,12 euros) à hora. O mais jovem, de 15 anos, passava 12 horas a passar roupa a ferro antes de esta ser enviada para o Reino Unido. “Se alguma coisa acontecer a um sírio, deitam-no fora como a um pedaço de tecido”, disse um dos refugiados.

A marca reagiu dizendo que oferecerá emprego legal permanente a quaisquer trabalhadores ilegais sírios que estejam em fábricas que produzam para si.

Outra fábrica em que o repórter da BBC encontrou crianças sírias estava a fabricar roupa para a loja online Asos. A empresa disse que esta não era uma fábrica aprovada por si. Desde a denúncia, foram encontrados 11 adultos sírios e três com menos de 16 anos a trabalhar no local.

Noutra fábrica turca foram encontrados vários refugiados sírios a trabalhar com gangas, com químicos que dão ao tecido um ar gasto, para a Mango e a Zara 12 por dia, sem protecção para estes produtos.

A Mango diz que a fábrica era subcontratada; a Inditex, grupo da Zara, refere que encontrou irregularidades numa auditoria em Junho e O grupo Inditex, de Amancio Ortega, detectou irregularidades numa fábrica que trabalha para a Zara em Junho, deu-lhe até Dezembro para as resolver
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