27.1.17

"Pobreza de economia ou economia de pobreza" reuniu economistas de renome

in Focussocial

"Enquanto Portugal tiver que cumprir com as exigências orçamentais estipuladas por Bruxelas não vai conseguir obter crescimento económico", disse a ex-ministra das Finanças, Manuela Ferreira Leite, durante o seminário/debate "Pobreza de Economia ou Economia de Pobreza". O encontro teve lugar na Fundação Calouste Gulbenkian, dia 17 de outubro, onde participou um conjunto de economistas que refletiu sobre a realidade portuguesa, os principais desafios societais atuais, os modelos macroeconómicos recentes e a sua (in) capacidade de dar resposta a esses mesmos desafios, bem como tentaram apresentar soluções e propostas que alargassem o leque de alternativas a considerar no debate público.

Manuela Ferreira Leite destacou que "a política europeia tem sido a causa da desgraça" em Portugal "e em toda a Europa", afirmando que quando estalou a crise financeira em 2008, a Comissão Europeia incentivou os Estados-membros a aumentarem o investimento público de forma a dar ânimo à economia. "Agora não venham criticar o défice", sublinhou, referindo-se à questão do endividamento que afeta muitos países em todo o mundo.

Para Manuela Ferreira Leite "é um problema global, não é um problema europeu", destacando que "é difícil haver um crescimento seguro quando há um grande endividamento". "Estamos metidos num nó cego, que algum dia tem que ser desatado", disse.

Foi debatido, entre outros, o entendimento e promoção ou implementação dos mecanismos que promovem o crescimento inteligente, sustentável e inclusivo; práticas e políticas de confiança necessárias para construir sociedades resilientes, inclusivas, participativas, abertas e criativas tendo em consideração as migrações, a integração e as alterações demográficas.

Como sabemos, a Europa é confrontada com grandes desafios socioeconómicos que afetam significativamente o seu futuro, como por exemplo, as crescentes interdependências culturais e económicas, envelhecimento e mudanças demográficas, exclusão social e pobreza, integração e desintegração, desigualdades e fluxos migratórios, um decrescente sentido de confiança nas instituições democráticas e entre cidadãos dentro e entre cada país.

Por sua vez, Portugal viveu recentemente uma das suas piores crises das últimas décadas, a estagnação prolongada e a crise económica, bem como o crescimento das desigualdades sociais agravadas por sucessivas políticas de austeridade em resposta à crise, colocam-nos perante grandes desafios futuros, nomeadamente, o desafio do crescimento económico e a sua importância na distribuição do rendimento na economia e as suas importantes implicações na criação de uma sociedade de iguais oportunidade para todos.

Orçamento tem falhado no combate à pobreza Por sua vez, a presidente do Conselho Superior das Finanças Públicas, Teodora Cardoso, disse que o Orçamento do Estado não tem sido uma ferramenta de combate à pobreza.

"Não é uma despesa de combate à pobreza, é uma despesa que vai conduzir a que esse combate venha a ser feito e a ter êxito, supõem-se, mas enquadrado no conjunto da política orçamental. Isso não tem sido feito, quando muito aparecem objetivos nas Grandes Opções do Plano (GOP) mas depois as GOP têm um problema, é que nunca têm ligação nenhuma ao Orçamento", frisou, depois, Teodora Cardoso em declarações à RR.
Por sua vez,o padre Jardim Moreira, presidente da Rede Europeia Anti-Pobreza, frisou que há um "obstáculo ideológico que tem impedido pensar no bem comum acima da questão ideológica".

Para Manuela Ferreira Leite, tão importante quanto encontrar um modelo certeiro de crescimento económico do país, "é o modelo de distribuição de rendimentos que não tem existido com pés e cabeça".

Já para a economista Manuela Silva, é importante conhecer melhor a pobreza e prestar atenção à evolução tecnológica, que está a mudar a sociedade e o emprego.

Rui Rio, ex-autarca do Porto, defendeu uma política de proximidade na área social: conhecer melhor para agir e resolver.
Por seu turno, o investigador Carlos Farinha Rodrigues sublinhou que pouco se sabe sobre a pobreza fora dos agregados, como os sem-abrigo e os idosos em lares. O conhecimento traduz melhor quantidade e qualidade das transferências sociais. E neste ponto, surge a ideia de se criar um observatório independente para as questões sociais.

Fonte: LUSA/RR

Já Guilherme d'Oliveira Martins apontou a educação, cultura e ciência como recursos para o combate à pobreza.
Por isso este debate aconteceu num momento em que importa parar e refletir, a partir destas questões, sobre qual o caminho que nos levará a um futuro melhor.