14.2.17

«Cidadãos podem acabar com a pobreza»

Texto Juliana Batista | Foto Gustavo Lopes Pereira, in Fátima Missionária

O sabor doce de muitas frutas opõe-se à vida amarga de muitos dos seus produtores, tantas vezes a lidar com «agroquímicos tóxicos» prejudiciais para a saúde, alerta a ativista Kozel Fraser, que convida os cidadãos a olharem para o seu «poder»

As condições em que são produzidos os alimentos que chegam aos supermercados e as opções que os cidadãos podem tomar em prol de um mundo mais sustentável são assuntos que mobilizam Kozel Fraser, porta-voz dos produtores e trabalhadores da campanha internacional «Fruta tropical justa».

A luta por um mundo mais sustentável conduziu esta ativista a Portugal no final do último ano. Por terras lusas, Kozel Fraser deu conferências, entrevistas e encontrou-se com retalhistas portugueses. Em declarações à FÁTIMA MISSIONÁRIA, a responsável deu conta do papel que os responsáveis pelas cadeias de supermercados e os consumidores devem assumir e alertou para os problemas verificados em plantações de várias partes do mundo.

«Em países como o Equador e a Costa Rica, há violações dos direitos humanos como a perseguição de trabalhadores que estão organizados em sindicatos, que representam os trabalhadores. As condições de segurança no trabalho também são ignoradas. Os trabalhadores do setor da fruta tropical, em particular a banana, estão muitas vezes expostos à aplicação intensiva de agroquímicos tóxicos, o que acaba por causar graves danos à sua saúde», denunciou.

Por Portugal, o diálogo entre Kozel Fraser e os responsáveis pelas grandes cadeias de supermercados, mostrou que «alguns desconhecem ou não estão sensibilizados para a possibilidade de violação de direitos humanos nas plantações». De acordo com a ativista, «os supermercados confiam no que os seus fornecedores dizem e não dispõem de quaisquer canais de ligação direta com os produtores para verificarem se o que dizem os fornecedores é verdade».

Além disso, os supermercados tendem a «disponibilizar produtos com base no preço mais competitivo e não providenciam a sustentabilidade, com base no cumprimento de critérios ambientais e sociais, desses mesmos produtos». A especialista defende que as grandes cadeias de supermercados, com um «grande» poder negocial junto dos fornecedores, devem tomar medidas para fomentar o consumo sustentável, como por exemplo, «garantir que um preço justo é pago aos produtores e oferecer produtos sustentáveis nas suas lojas».

Aos consumidores, a ativista deixa um conjunto de alertas e mostra a importância das suas opções alimentares. «O meu conselho para os cidadãos é pensarem na forma como a comida e os produtos que consomem são produzidos e também pensarem no poder que têm, como consumidores, na escolha de produtos sustentáveis», de forma a levar ao «desenvolvimento social e ambiental». Kozel Fraser acredita que «os cidadãos têm o poder de acabar com a pobreza, de promover o bem-estar e de garantir um futuro mais sustentável para as futuras gerações».

A responsável reconhece que as dificuldades financeiras de muitos cidadãos portugueses e de pessoas de todo o mundo são um «entrave» para a prática de um consumo sustentável. Por isso, o que os defensores deste sistema de comércio justo pedem são modificações na cadeia de abastecimento e «mudanças nas margens de lucro dos supermercados e empresas, de modo que as escolhas sustentáveis sejam mais fáceis para os consumidores e não se traduzam, necessariamente, em preços finais mais elevados».  

Apesar das situações de violência que marcam o percurso de muitos alimentos, a ativista considera que o mundo está a «caminhar na direção correta» rumo à sustentabilidade. Contudo, é necessária «coerência nas políticas para o desenvolvimento sustentável, desde o nível da Comissão Europeia até ao nível das autoridades locais». «Precisamos de programas mais abrangentes para a educação e empoderamento dos cidadãos e precisamos de modelos de sucesso que possamos multiplicar para a obtenção de um impacto de larga escala», indica.