24.7.17

Estudantes estão a mudar a casa (e a vida) de famílias carenciadas

Ana Catarina Peixoto, in Jornal Público

A associação Just a Change, juntamente com a Fundação Mão Amiga, colocou jovens universitários a reabilitar 11 casas degradadas no concelho de Sever do Vouga, distrito de Aveiro

Desde o início de Julho que Sever do Vouga, no distrito de Aveiro, tem recebido novos visitantes com uma missão especial. São jovens universitários, vêm de várias partes do país e não se importam de tirar uns dias das férias para ajudar quem mais precisa. Juntos, estão a reabilitar 11 casas degradadas de famílias carenciadas do concelho e esperam vir a mudar a vida de quem nelas habita.

Conceição Gradim tem 74 anos e vive com o seu marido, Manuel Martins, numa casa em Vila Fria, uma pequena terra no meio de Sever do Vouga. É lá que tem vivido parte da sua vida, mas os problemas têm-se acumulado: "Chovia muito aqui dentro, até no guarda-fatos. As telhas estavam mais para lá do que para cá e quando o vento era mais forte deixava tudo destruído", conta ao PÚBLICO, enquanto passa o olhar pela sala que está agora repleta de todo o tipo de materiais de construção.

No sítio onde vive, rodeado por natureza e pelo silêncio que se costuma sentir na pacata vila, há agora o frenesim e alegria dos jovens que estão a ajudar a recuperar o seu lar. Entre preparar a massa de cimento, tapar os buracos do telhado e arranjar os tectos e as paredes, os voluntários, pouco a pouco, vão dando uma nova vida e novas condições àquela e a outras habitações.

Ao todo, são 20 dias de obras de reabilitação de habitações degradadas, orientadas sempre por mestres de obra e apoiadas por várias instituições locais, num projecto que junta a associação Just a Change (em português, Apenas uma mudança), a Fundação Mão Amiga e a Câmara Municipal de Sever do Vouga.

A ideia do Just a Change surgiu quando um grupo de amigos se juntou e começou a tocar guitarra na Baixa de Lisboa para "ganhar uns trocos" e ajudar na alimentação dos sem-abrigo. Mas queriam ir mais longe e decidiram fazer algo diferente: "Já existiam muitas instituições a fazer esse tipo de trabalho e então virámo-nos mais para o ramo habitacional", conta Henrique Lopes Cardoso, da associação. Começaram, assim, a intervir em casas ou instituições com pequenas coisas como "pinturas e umas massas" e, a partir daí, foram evoluindo até chegar a este projecto. Desta vez, estão por Sever do Vouga.

Salomé Martins estuda Psicologia na Universidade de Aveiro, que tem um protocolo com a fundação Mão Amiga, e é uma das voluntárias do projecto. Não é a primeira vez que decide fazer voluntariado, mas confessa que é a sua estreia a "pôr as mãos na massa para reabilitar casas". Apesar de ser cansativo, diz estar a apanhar o gosto e a aprender coisas novas.

"Na casa onde nós estávamos, o senhor parecia que vivia sozinho, parecia mesmo ter vontade de falar, então nós estamos a trabalhar e a falar com ele ao mesmo tempo", acrescenta. E porquê colocar jovens a reabilitar casas? Segundo o Just a Change, são os mais novos que trazem consigo "uma vontade inabalável de mudar o mundo" e agora podem fazê-lo ao ajudar as famílias e idosos das aldeias de Portugal.