9.8.17

Rede africana força mulheres a prostituir-se com bruxaria

Alexandra Panda, in Jornal de Notícias

Vítimas, instruídas para pedir asilo nos países da Europa, são mantidas em cativeiro com ameaças a familiares e rituais vodu.

Uma rede de prostituição africana, com ramificações às principais capitais europeias, está a operar em Portugal. As mulheres são instruídas a pedir asilo e mantidas sob o domínio dos indivíduos com ameaças de morte aos familiares em África e de vodu, a magia negra africana. Um indivíduo que pertence a esta poderosa organização criminosa foi recentemente detido, pelo SEF, por tráfico de seres humanos e lenocínio.

O IN sabe que aquele indivíduo, um dos lideres daquela organizada rede mafiosa internacional, acabou libertado pelo tribunal com aperta das medidas de coação.

Esta rede ganha milhões de euros ao colocar centenas de jovens africanas a prostituir-se em cidades como Paris, Berlim, Bruxelas, Roma, Madrid, Lisboa e Porto.

O indivíduo, de origem africana e em situação legal em Portugal, é suspeito de rececionar as mulheres vindas de outras grandes cidades europeias para as colocar a prostituir-se nas ruas portuguesas. Em Portugal, vigia-as, mantém-nas em cativeiro e recolhe o dinheiro que elas ganham na prostituição e que depois é enviado para os membros da cúpula da organização.

Prometem emprego As vitimas, normalmente jovens à procura de uma vida melhor, são aliciadas por angariadores nos países de origem, em África. É-lhes prometido emprego e habitação na Europa, com o compromisso de lhes adiantarem o pagamento da viagem, que deverão reembolsar, em princípio com os salários que lhes prometem ganhar.

Para poderem entrar na União Europeia, dizem às mulheres que devem pedir asilo, mal cá cheguem.

Apesar de cumprir tudo o que lhes é pedido, a verdade é que a realidade encontrada por elas é bem diferente da que lhes foi prometida.
Bilhete de dois para 10 mil euros Normalmente, elas chegam em primeiro lugar a Berlim ou Paris, onde são encaminhadas para as casas de recuo da rede. Ali, retiram-lhes o passaporte e dizem-lhes que vão ter de se prostituir para reembolsar a viagem. O preço do bilhete de avião logo é inflacionado de dois mil para 10 mil euros, para assim as obrigar à prostituição. Também lhes cobram juros para as manter sob o seu domínio e assim as manter em cativeiro.

Além disso, os membros da rede ameaçam os familiares das vítimas, filhos ou pais, que ficaram em África. As autoridades também verificaram que as mulheres são ameaçadas com magia negra africana, o chamado vodu. Acreditando neste tipo de espiritismo, as vítimas ficam aterrorizadas com a ideia de serem, elas ou familiares, amaldiçoadas.

Conformadas, acabam normalmente por aceitar o destino que a rede lhes deu. São enviadas de uma cidade para outra, primeiro para evitar as suspeitas das autoridades mas também para serem uma "novidade", onde chegam. Os países com mais poder de compra são os primeiros destinos, acabando o périplo em Espanha ou Portugal, onde já não "rendem" tanto à rede. Menor de 14 anos devia 50 mil euros pela viagem O esquema usado por esta nova rede, agora detetada pelo SEF, já tinha sido usado por traficantes de pessoas, de nacionalidade nigeriana, que foram condenados, no ano passado, pelo Tribunal de Lisboa, a sete e oito anos de cadeia. Os indivíduos, que estão a cumprir essas penas em Portugal, chegavam a cobrar às mulheres 50 mil euros para supostas despesas de viagem entre a África e Europa. Neste caso, urna das vítimas, que beneficiou de um regime especial de proteção da justiça portuguesa, foi sujeita a um ritual vodu antes de ser informada que teria de reembolsar os indivíduos com prostituição em Espanha e no Luxemburgo. Esta vitima viajou da Nigéria para o Senegal, sempre acompanhada por um elemento da rede. Ficou alojada numa casa com outras mulheres que, tal como ela, só podiam sair acompanhadas pelos homens que as vigiavam. Entrou na Europa com um passaporte falso, um telemóvel e 20 euros. Pediu asilo em Lisboa, direito que lhe foi concedido por supostamente ter 14 anos. Quatro dias depois, desapareceu. Foi levada por um elemento da rede para Vigo, onde começou a prostituir-se até ser resgatada e protegida pela justiça.