23.10.17

Human Rights Watch acusa governo afegão de afastar raparigas do ensino

in Diário de Notícias

A organização não-governamental Human Rights Watch (HRW) acusa o governo de Cabul e os doadores internacionais de falharem na aplicação dos programas de educação para raparigas, estimando que dois terços das jovens afegãs não têm acesso à escolarização.

"O governo do Afeganistão e os doadores fizeram grandes promessas em 2001 no sentido de garantir educação para as raparigas, mas a insegurança, a pobreza e a mobilidade forçada estão a afastar as jovens das escolas", disse Liesl Gerntholtz, diretora para os Direitos das Mulheres da HRW.

"O governo precisa de voltar a focar-se para garantir educação a todas as raparigas", sublinhou.

O relatório de 132 páginas com o título "Não vou ser médica e um dia tu vais ficar doente: o acesso à educação no Afeganistão", a HRW refere que os doadores internacionais se afastaram dos compromissos.

Os casos abordados no documento dizem sobretudo respeito a regiões das províncias de Cabul, Kandahar, Balkh e Nangarhar e foca-se nas raparigas com idades compreendidas entre os 11 e os 18 anos que não estudam ou não podem continuar a estudar.

O relatório indica também as situações em que, por motivos religiosos, as famílias impedem as raparigas de serem ensinadas por professores do sexo masculino e que 41 por cento das escolas não funcionam em edifícios apropriados: não têm água, paredes ou instalações sanitárias.
A discriminação contra as raparigas é também sublinhada no relatório que alerta para os casamentos forçados: um terço das raparigas são obrigadas a casarem-se antes dos 18 anos.

A organização com sede nos Estados Unidos recorda que os talibãs controlam cerca de 40 por cento dos distritos do país, 16 anos depois do início da intervenção internacional liderada por Washington.

A situação é também marcada pela falta de aplicação da legislação em vigor, pela presença de milícias e grupos de crime organizado que proliferam em todo o país.

"As raparigas são alvo de ameaças e ataques sexuais, raptos e agressões com ácido além dos ataques específicos contra as raparigas que se encontram a estudar", nota o documento.

A HRW insiste com o governo de Cabul e os doadores internacionais para que aumentem o investimento na educação e a proteger as escolas e os estudantes adotando medidas concretas que devem passar, entre outras, pelo aumento do orçamento do Estado dedicado ao setor.